A Geografia


O sentido da Ciência Geográfica e a contribuição de estudiosos 
Por: Ricardo Santos de Almeida.

A Geografia pode ser considerada a ciência com história mais longa devido às tendências dos povos antigos que migravam para várias localidades na Terra deixando rastros, enriquecendo a partir disso conhecimento sobre as paisagens e seus obstáculos naturais, mesmo assim tornou-se ciência no final do Século XVIII na Alemanha e se consolida no início do Século XIX. Nos Séculos anteriores a ciência geográfica ainda não era assim classificada, pois os mitos, lendas e ainda a falta de um objeto de estudo especifico inviabilizavam a sua consolidação.

 
Fonte: http://007blog.net/trabalho-de-geografia/ (2013).

 Para Moraes (2003) as ideias geográficas surgiram com os povos antigos e se davam através de conhecimentos de como se davam as estações do ano, o comportamento dos rios e áreas costeiras e que viabilizavam o acesso a alimentos, possibilitando também a observação sobre os componentes da fauna e flora. Contudo, viabilizava também como se davam as relações sociais e deslocamentos. É necessário frisar que há uma subdivisão do conhecimento geográfico em antes e posterior aos registros históricos principalmente devido a pouca ou duvidosa quantidade de informações sobre a pré-história, já no caso da segunda divisão esta contém mais conteúdo, no que se referem aos conhecimentos adquiridos após as primeiras explorações do ser humano que viabilizou seu processo evolutivo e em paralelo a isto, as questões agrárias estão diretamente associadas, pois são neste momento que estão inseridas as técnicas que viabilizam a transformação da natureza, pois para Moreira (1982, p. 1.) “a natureza socializada é a natureza original, transmutada. A primeira natureza permanece em essência na segunda natureza, a natureza socializada, havendo entre as duas uma unidade dialética: são e não são, a um só tempo, a mesma coisa”. É com o homem primitivo que as questões territoriais que remetem a disputa por poder de determinadas áreas para atender a seus anseios surgem e para tal torna-se necessária a transformação da primeira em segunda natureza.
Moraes (2003) afirma que a ciência geográfica começa a ser reconhecida como ciência a partir do alastramento das relações capitalistas de produção pelo mundo com a Revolução Burguesa na Inglaterra e o início do processo efetivado na França nos fins do Século XVIII. O principal desafio da ciência geográfica era sua ligação com a História pondo questões de se a Geografia era ou não algo para ilustrá-la e como se dariam os estudos entre natureza e o homem.

 

A contribuição das civilizações para a Geografia


Moraes (2003) destaca que é com os povos orientais que se dá o desenvolvimento empírico, a realização das observações e estabelecimento de estudos matemáticos dando origem a estudos sistemáticos do mundo que contribuíram significativamente para conhecer outros lugares do mundo e suas especificidades. Quanto aos povos mesopotâmicos e egípcios são atribuídos os estudos sobre a geometria, agricultura e hidrografia que relacionados possibilitaram o desenvolvimento daquela civilização também através das relações comerciais com outros povos. O autor também frisa que os gregos acumularam esses conhecimentos supracitados para tornar sua civilização mais forte sendo privilegiada pela sua localização, além de contribuírem com os estudos sistêmicos que viabilizaram a compreensão de fenômenos sísmicos, de como se desenvolveu a população mediante o ambiente ao qual viviam dependendo de estudos mais aprofundados sobre o solo e clima. Já sobre os romanos, salienta a preocupação de Pompônio, Mela e Plínio na descrição do vasto império visando indicar a localização de áreas prósperas que possibilitasse mais riqueza a partir da comercialização de produtos, contribuindo assim na construção das vias de acesso as cidades, aquáticas ou rodoviárias. 

 
A representação do espaço geográfico em mapas.
Fonte: www.coletivocult.com (2013). 

Com a expansão do cristianismo há uma espécie de retrocesso ao avanço da geografia, pois é principalmente durante a Idade Média que muito do que fora produzido sobre o espaço geográfico foi simplesmente ignorado ou confiscado. Mesmo assim, os árabes traduziram e apossaram-se de documentos e livros que estavam nas bibliotecas de Alexandria e de Ptolomeu e os possibilitaram o conhecimento das obras fundamentais de Aristóteles e de Ptolomeu, que mesmo não sendo geógrafos possuem estudos que dependiam de descrições dos lugares e seus contextos sociopolíticos. É com os árabes que há mais desenvolvimento no que se refere aos processos de urbanização, estudos sobre agricultura, construções e explorações navais contribuindo assim em contatos com outros povos, línguas e costumes sendo socializados também com os povos dominados. A Igreja Católica, sua influência, cobiça, desejos comerciais, a conversão dos povos e o bloqueio da transmissão de ideias, hoje consideradas verdadeiras, como a esfericidade terrestre, também contribuíram significativamente para a construção da ciência geográfica, pois em contradição dialética potencializou a expansão marítima inserindo em mapas simbologias como monstros marinhos como significado para as turbulências e demais fenômenos marítimos. Além da descoberta de novos mundos, é através desta contradição que foram divulgadas a bussola, o astrolábio e a construção de embarcações mais sofisticadas para a época, como a caravela e nau. Fomentou também a confecção dos postulados ou mapas que descreviam rotas marítimas inserindo nestes, informações sobre clima, vegetação, vulcanismo e as formas de ação do homem sobre a natureza e sua relação com o meio ao qual vive.

A evolução dos estudos Geográficos


A ciência geográfica para Moraes (2003) se destaca por englobar uma variedade de fenômenos estudados, cada um por diferentes ciências não isolando um objeto especificamente seu. É através de fatores histórico-estruturais que se observa a base material das sociedades, o modo de produção ao qual estão inseridos e seu processo de desenvolvimento socioespacial possibilitando ao mundo a expandir-se no aspecto econômico viabilizando a formulação de postulados científicos e filosóficos como exemplo, o conceito de espaço geográfico, pois

[...] o conceito de espaço geográfico se enriquece porque nele se introduz o homem com sua história. Mais claramente, o espaço geográfico é definido como sendo a superfície da terra vista enquanto morada, potencial ou de fato, do homem, sem o qual tal espaço não poderia sequer ser pensado. [...] espaço absoluto o espaço torna-se uma coisa em si mesma, [...] independente [...]. [...] espaço relativo este é entendido a partir de relacionamentos entre objetos, e o espaço relativo só existe porque os objetos existem e se relacionam mutuamente. [...] espaço relacional este é visto como existindo nos objetos, “no sentido de que um objeto somente pode existir na medida em que ele contenha e represente dentro de si relações com os outros objetos. (CORRÊA, 1982. p. 1-2).


E é neste espaço geográfico que segundo Moraes (2003), no final do Século XVIII, na Alemanha, Alexander Von Humboldt (1769-1859) com boa origem social legitima a superação do determinismo considerando aspectos naturais e humanos. Neste, não os dissocia utilizando a valorização da estética, da linguagem. Há também a ideia de unidade e enciclopedismo que de modo descritivo articula a observação dos fenômenos e sua reflexão sobre o que está sendo estudado demandariam o objeto da Geografia e com isso generalizavam-se os fenômenos a partir das comparações e combinações.

 
 Humboldt.
Fonte: bonavides75.blogspot.com (2013).

Sob o pensamento iluminista Humboldt elaborou propostas e articulações de raciocínios que tornaram a fé na razão como ideário para o desenvolvimento intelectual que levaria a sociedade a melhorar seu estado e instituições políticas. Pensou a história como um progressivo domínio da natureza pelo pensamento, visando instaurar uma ordem social que recuperasse os direitos naturais do homem identificados pela via da razão e do conhecimento sendo contrario ao pensamento religioso. Seus principais métodos eram a articulação da observação dos fenômenos e sua descrição como reflexão e possibilidade teórica que demanda seu objeto. Observava o levantamento empírico e a filosofia da natureza na busca de novos procedimentos metodológicos e campos de investigação geográficos. Colocou-se contra a especulação elaborando materiais que não se detinham a impressões subjetivas.
Ratzel.
Fonte: portifoliogeogra.blogspot.com (2013).

Segundo Moraes (1990) devido a grande importância do contexto social alemão que por meio da busca por uma organização política e de identidade no campo cientifico que Friedrich Ratzel (1844-1904) dirige suas argumentações utilizando conceitos fundamentais da Geografia, como o Território, sendo este uma porção de terra com aglomerado humano sob posse de alguém, e Espaço Vital, enquanto porção do planeta necessária para a reprodução de uma comunidade equilibrando a população e os recursos contidos nela, gerando um caminho para a reformulação destes conceitos. Através desta formulação Ratzel analisa como essenciais a defesa e o direito de um povo a um território, observando-se fatores como violência, guerra, conquistas, o embate entre as sociedades, raças e nações como componentes naturais, pois o contato entre outros povos se dá através das relações comerciais, assimilação ou guerra. Diferencia a guerra entre outros povos naturais ou cultos, ocorrendo primeiro a escravidão e posteriormente a real conquista do território.

 
La Blache.
Fonte: stalner-galerie.blogspot.com (2013). 

Já na França, no Século XIX, que Paul Vidal de La Blache (1845-1918), fundador da corrente majoritária do pensamento e escola geográfica planeja uma Geografia Universal que através do estudo da região potencializaria a compreensão do meio físico. Utilizando-se dos métodos naturalista, possibilista, positivista e relativista sugere como objeto da Geografia o estudo das relações entre homem e natureza, apenas na perspectiva da paisagem, sendo o homem um ser ativo transformador do meio em que vive estudando os gêneros de vida, seus motivos e relação com os meios naturais sendo os traços classificatórios e particulares que viabilizam a prática da indução e da observação dos fenômenos por ele analisados nas paisagens por ele pesquisadas especificamente na França durante a Guerra Franco-Prussiana.
Para Ratzel o Estado, segundo Moraes (1990) delimita o território contento patrimônio cultural acumulado e a defesa do espaço vital sendo esta a função da organização da sociedade viabilizando a defesa de seus anseios movidos a partir de interesses próprios possuindo apetite territorial gerando atritos na essência do Estado. Esses atritos a estratégia imperial tornam relativas as inevitabilidades a guerras no período bismarkiano, sendo estes os atributos que potencializam as concepções político-sociais contidas nas propostas geográficas de Ratzel. As teorias de Ratzel, primeiro autor a propor uma geografia mais voltada ao entendimento do homem no espaço geográfico, são retomadas por autores nazistas que buscavam a unificação da Alemanha sintetizando a geografia como ciência que trabalha e aprende sobre fenômenos podendo adotar também posicionamentos. Já Karl Ritter (1779-1859) tratava o homem como sujeito da natureza observando o mundo diferenciando a natureza da Terra (esta projetada por Deus para o desenvolvimento da espécie humana) e os fatos sob uma ótica mais prudente já como sendo religioso divergia na defesa entre ideais racionais e a fé. Partia do geral para o individual, sendo através do método redutor ou das conexões os caminhos para a compreensão do contexto histórico para saber a evolução social e acelerava a subordinação necessária da matéria à lei geral.

A Ciência Geográfica no Brasil


É através de uma linha processual histórica partindo do geral (mundo) para o local (Brasil) que estão destacadas a influência de estudiosos e geógrafos sobre as principais correntes da ciência geográfica para compreendermos a Geografia Agrária como uma das principais disciplinas que potencializam o entendimento da complexidade do mundo.
 
Milton Santos.
Fonte: pt.wikipedia.org (2013).

No caso brasileiro, segundo Moura (2008) o destaque é inicialmente da corrente Geografia Francesa que permitiu o desenvolvimento da Geografia brasileira entre as décadas de 1930 e 1940 através da dita Geografia Ativa[1] que iniciando a consolidação desta não rompendo teórico-metodologicamente com a Geografia Tradicional. É neste movimento que surge o primeiro curso de Geografia, na Universidade de São Paulo em 1934 mantendo-se ainda a descrição e o empirismo.
Andrade (1982) salienta que não há pensamento geográfico autônomo na evolução da ciência geográfica. Exalta a Nova Geografia[2] resultante, também, de implicações do desenvolvimento das técnicas e das novas descobertas cientificas. Para chegar a estas conclusões disserta sobre o trabalho realizado por pensadores e geógrafos tradicionais. Sistematiza o modo como a ciência geográfica brasileira se desenvolveu, influenciada por Carvalho, pensador geográfico francês, bem como a atuação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística na utilização de métodos quantitativos para compreender a realidade brasileira. Critica a utilização da Teoria Geral dos Sistemas pela sua não uniformidade, bem como os geógrafos que tomaram para si a Geografia Nova como dogma. Enfatiza a Geografia como um estudo importante para a compreensão das relações entre o homem e a natureza, principalmente na organização geoeconômica do espaço brasileiro, mesmo destacando a postura de alguns geógrafos brasileiros entre as décadas de 1950 e 1960 que não consideravam como objetos de estudos geográficos os problemas nacionais.

 
Milton Santos.
Fonte: santosmilani.blogspot.com (2013).

Moraes (2003) revela que na década de 1970 a renovação da Geografia ocorre devido a ruptura do tradicionalismo nos estudos e perspectivas, pois visando maior liberdade de conhecimento, aperfeiçoamento e propostas faz a crise da Geografia Tradicional – a descritiva – tornar-se benéfica devido as mudanças de estruturas e bases metodológicas e tudo isso impulsionado por fatos ocorridos a época que fomentavam estudos aprofundados no que se referem as temáticas Território e Estado. Fatores como a evolução tecnológica, a reestruturação do capitalismo, evolução das questões agrárias cada vez mais complexas devido a utilização de recursos técnicos-científicos-informacionais mobilizaram o mundo e a economia e direcionavam a novos caminhos para a ciência geográfica, cada vez mais complexa e repleta de conexões que dão sentido mais dialético ao mundo em que vivemos.
Moura (2008) destaca que o surgimento de outras vertentes, como a Geografia Crítica, surgida no mundo é decorrente de acontecimentos que potencializaram dualidades, neste caso a Guerra Fria e se fortaleceu no pós-Segunda Guerra Mundial. Foi motivada pela inquietação causada pela utilização de métodos quantitativos para encobrir o entendimento da expansão capitalista no mundo no recorte temporal supracitado, pois

As formas de articulação das forças produtivas com as relações de produção diferem, qualitativamente, de uma formação sócio-espacial para outra. As forças produtivas articulam no processo do trabalho, a força de trabalho, os objetos do trabalho e os meios de trabalho. Como "primeira natureza", o espaço é objeto de trabalho, enquanto que como "segunda natureza" é meio de trabalho, isto é, condição de reprodução.” (MOREIRA, 1982. p. 3).


Devido aos acontecimentos motivados pelas evoluções na relação entre homem e natureza surgem vertentes da Geografia Crítica como a Geografia Crítica Radical Marxista (buscava o entendimento das relações socioeconômicas partindo de pressupostos do discurso político e ideológico do modo de produção capitalista) e Geografia Crítica Liberal (buscava o entendimento das transformações socioeconômicas na sociedade democrática). Quanto a Geografia Crítica Radical Marxista chamam a atenção das distorções causadas pelo mau uso das teorias marxistas e que os geógrafos devem estar atentos as intencionalidades no contexto sociopolítico e espacial considerando que

A teoria do espaço e do tempo desenvolveu-se no contexto da luta entre o materialismo e o idealismo. A característica básica de todos os idealismos tem sido a negação da realidade objetiva do espaço e do tempo como forma de existência da matéria. [...], a negação da indivisibilidade do espaço e do tempo em relação à matéria em mo­vimento. [...] as teorias idealistas, com todos seus matizes, procuram negar a realidade objetiva da matéria movendo-se no espaço e no tempo. (OLIVEIRA, 1982. p. 2).


Em síntese, a Geografia Crítica permeia-se no entendimento da realidade explicita e implícita na produção do espaço geográfico e que devem levar em consideração que esta produção é realizada pela sociedade e natureza, e seus elementos, concretizando o Espaço Geográfico, como sugere Santos (1978). Provocou o renascimento de uma Geografia Política menos tecnocrática e mais voltada a contribuições quanto aos planejamentos do Estado que, como sugestões levem em consideração as escalas e elementos contidos nos recortes locais e regionais, como destaca Andrade (1982).
 
Manuel Correia de Andrade.
Fonte: gn107.blogspot.com (2013). 

Santos (1982) afirma que a Geografia não é a ciência dos lugares, mas sim uma ciência do homem, que deve entender as relações sociais. Relembra que ao focar-se no entendimento enquanto ciência dos lugares recaiu-se sobre a Geografia uma crise que só começou a ser superada a partir da busca pela compreensão das relações sociais na pós-Segunda Guerra Mundial, pois

Consideramos que “o Espaço é a forma de ser da matéria que, sendo condição básica da coexistência dos fenô­menos materiais, reflete na sua essência e propriedades, determinada lei geral da coexistência dos fenômenos e dos estados da matéria em movimento. O tempo é a forma de ser da matéria que, sendo condição básica da mutação dos fenômenos materiais, reflete na sua essência e propriedades, determinada lei geral desta sucessão dos estados da matéria, em movimento". (Sviderski, 1956:118.). (OLIVEIRA, 1982. p. 8).


 Quanto a Geografia brasileira, ainda para Santos (1982) as implicações da ditadura direcionaram a ciência geográfica a focar seus estudos na estatística e descrição a tornando teorética, principalmente por ignorar o debate sobre a realidade brasileira, tal qual ela é. Destaca a carência de produções em contraponto as necessidades brasileiras e crítica os geógrafos por “permitir” a pesquisadores de outras áreas apreenderem para si estudos geográficos, bem como a monopolização de produções por poucos geógrafos, bem como seu acesso e a pouca importância comercial para as editoras. Exalta-se quanto a facilidade de acesso a informação por estrangeiros sobre dados brasileiros e a baixa acessibilidade aos brasileiros. Denuncia a desagregação na formação do geógrafo brasileiro que ainda são influenciados por erros passados. Sugere a construção de uma Geografia brasileira que sirva também para ajudar a construir um país com menos desigualdades, gerando suas próprias ideias. Colaborando com este pensamento Corrêa (1982) destaca que

O espaço-morada do homem é de natureza social. O espaço não atua passivamente no processo de sua constante organização e reorganização pelo homem (e este posicionamento não implica um retorno ao determinismo ambiental). Este papel pode ser, devido a um diferencial na distribuição de recursos naturais, e em casos limites, de extrema importância no processo de organização do espaço. [...]. A ação humana, que gera a organização do espaço (forma, movimento e conteúdo de natureza social sobre o espaço) é caracterizada, nas sociedades integradas economicamente através de mecanismos de mercado, pela ação de atores que, ao se apropriarem e controlarem os recursos, sobretudo os recursos escassos, natural ou socialmente produzidos, [...] capazes de impor sua marca sobre o espaço. [...] Os processos espaciais, elementos mediatizadores entre processos sociais e organização do espaço, constituem um conjunto de forças postas em ação por determinados atores que atuam ao longo do tempo, originando localizações, relocalizações e permanência de atividades e do homem sobre o espaço. (CORRÊA, 1982. p. 2).


Compartilhando destas ideias Moreira (1982) desenvolve estudo sistemático para compreender o arranjo socioespacial utilizando os conceitos de primeira natureza (a essência totalizadora do espaço geográfico, objeto do trabalho) e segunda natureza (inclusa sua socialização a partir da reprodução do trabalho), pois são através do debate sobre a dialética do espaço busca enfatizar a formação econômico-social através do modo de produção dos bens materiais e suas implicações, distintas em cada recorte do espaço geográfico, aprofundando o estudo sobre a dominação do homem sobre a natureza. Na busca por um método de pesquisa, esclarece que a análise da totalidade deve permear sobre a apreensão da dialética social da formação econômico-social, salientando que devido ao não isolamento dos arranjos jurídicos, políticos e ideológicos do Estado não se pode entender por si só as relações de expropriação, transferências, produções, em relações locais relações local-global.

 
Território.
Fonte: http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/abordagem-conceito-territorio.htm(2013). 

Oliveira (1982) resgata o estudo de pensadores e geógrafos sobre a formulação epistemológica do espaço e do tempo não os dissociando para, por exemplo, compreender o materialismo dialético. Norteia o estudo sobre espaço e tempo a partir da concepção de Lênin constituída do universo enquanto matéria em movimento movimentando-se no espaço e no tempo. Destaca que a teoria do espaço-tempo desenvolveu-se a partir da necessidade do entendimento sobre o que de fato seriam o materialismo e o idealismo, logo, as indivisibilidades do espaço.
Moraes & Costa (1982) frisa a importância da Geografia mais voltada ao entendimento das relações existentes entre homem e natureza no espaço geográfico, sob influencia marxista, mesmo os estudos a partir desta influência desenvolvendo-se tardiamente. Realizam apontamentos sobre o processo que a Geografia Crítica passa a fortalecer-se a partir dos estudos marxistas para a compreensão da ação do materialismo histórico e dialético, a partir da apreensão do território como um processo histórico e social, e neste inclusas as relações desde a exploração, produção, distribuição/circulação, consumo e desperdício. Sendo assim,

A concepção materia­lista dialética da continuidade e da descontinuidade da matéria, do espaço e do tempo, não exige nem a divisão infinita da matéria, do espaço e do tempo, nem sequer a possibilidade infinita desta divisão. A solução do problema da continuidade e descontinuidade é possível através da teoria dialética da unidade das mutações qualitativas e quantitativas. (OLIVEIRA, 1982. p. 10).


 Consequentemente este processo incide sobre o espaço geográfico fomentando o valor criado (trabalho transfere também valor aos objetos) e o valor do espaço (inclusos na renda diferencial e na redá de monopólio da terra), por uma sociedade, que dependendo do avanço técnico adquire mais poder no espaço geográfico. Sistematiza a categoria Território como fruto da Formação Econômico Social, influenciada por fatores principalmente externos, no modo de produção capitalista.
Sendo assim, o espaço geográfico é, por estes autores, considerado cada vez mais rico, pois é nele que o homem se ressignifica, em sua morada – a superfície terrestre, e sem este espaço não poderia sequer ser pensado e tampouco sua (re)produção social. A ciência geográfica está em constante desenvolvimento e é desta forma que se analisou os principais geógrafos brasileiros que em seus tempo-espaço refletiram sobre o pensamento geográfico brasileiro destacando suas nuances mediante as transformações ocorridas no mundo.




[1] Movimento da Geografia que entre 1950 e 1960 que possibilitou uma renovação por questionarem o papel do geógrafo e a busca pela adoção de novos caminhos metodológicos e conceituais que dessem sentido e revigorassem a ciência geográfica.
[2] Movimento da Geografia no final da década de 1960 que tinha como intuito aplicar adotando a filosofia positivista lógica para sistematizar uma metodologia geográfica especifica para pesquisas, o desenvolvimento de teorias utilizando também a estatística, modelos e abordagem sistêmica para atender o processo evolutivo ao qual a sociedade estava se inserindo a época.


Fonte:
ALMEIDA, Ricardo Santos. Monitoria da Disciplina Geografia Agrária: Iniciação à Docência para a Formação Acadêmica em Nível Superior. Maceió: Centro Universitário CESMAC, 2012. 89 p.

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