O
sentido da Ciência Geográfica e a contribuição de estudiosos
Por: Ricardo Santos de Almeida.
A
Geografia pode ser considerada a ciência com história mais longa devido às
tendências dos povos antigos que migravam para várias localidades na Terra
deixando rastros, enriquecendo a partir disso conhecimento sobre as paisagens e
seus obstáculos naturais, mesmo assim tornou-se ciência no final do Século
XVIII na Alemanha e se consolida no início do Século XIX. Nos Séculos
anteriores a ciência geográfica ainda não era assim classificada, pois os
mitos, lendas e ainda a falta de um objeto de estudo especifico inviabilizavam
a sua consolidação.

Fonte: http://007blog.net/trabalho-de-geografia/ (2013).
Moraes
(2003) afirma que a ciência geográfica começa a ser reconhecida como ciência a
partir do alastramento das relações capitalistas de produção pelo mundo com a
Revolução Burguesa na Inglaterra e o início do processo efetivado na França nos
fins do Século XVIII. O principal desafio da ciência geográfica era sua ligação
com a História pondo questões de se a Geografia era ou não algo para ilustrá-la
e como se dariam os estudos entre natureza e o homem.
A contribuição das civilizações para a
Geografia
Moraes
(2003) destaca que é com os povos orientais que se dá o desenvolvimento
empírico, a realização das observações e estabelecimento de estudos matemáticos
dando origem a estudos sistemáticos do mundo que contribuíram
significativamente para conhecer outros lugares do mundo e suas
especificidades. Quanto aos povos mesopotâmicos e egípcios são atribuídos os
estudos sobre a geometria, agricultura e hidrografia que relacionados
possibilitaram o desenvolvimento daquela civilização também através das
relações comerciais com outros povos. O autor também frisa que os gregos
acumularam esses conhecimentos supracitados para tornar sua civilização mais
forte sendo privilegiada pela sua localização, além de contribuírem com os
estudos sistêmicos que viabilizaram a compreensão de fenômenos sísmicos, de
como se desenvolveu a população mediante o ambiente ao qual viviam dependendo
de estudos mais aprofundados sobre o solo e clima. Já sobre os romanos,
salienta a preocupação de Pompônio, Mela e Plínio na descrição do vasto império
visando indicar a localização de áreas prósperas que possibilitasse mais
riqueza a partir da comercialização de produtos, contribuindo assim na
construção das vias de acesso as cidades, aquáticas ou rodoviárias.
Com a expansão do cristianismo há uma espécie de retrocesso ao avanço da geografia, pois é principalmente durante a Idade Média que muito do que fora produzido sobre o espaço geográfico foi simplesmente ignorado ou confiscado. Mesmo assim, os árabes traduziram e apossaram-se de documentos e livros que estavam nas bibliotecas de Alexandria e de Ptolomeu e os possibilitaram o conhecimento das obras fundamentais de Aristóteles e de Ptolomeu, que mesmo não sendo geógrafos possuem estudos que dependiam de descrições dos lugares e seus contextos sociopolíticos. É com os árabes que há mais desenvolvimento no que se refere aos processos de urbanização, estudos sobre agricultura, construções e explorações navais contribuindo assim em contatos com outros povos, línguas e costumes sendo socializados também com os povos dominados. A Igreja Católica, sua influência, cobiça, desejos comerciais, a conversão dos povos e o bloqueio da transmissão de ideias, hoje consideradas verdadeiras, como a esfericidade terrestre, também contribuíram significativamente para a construção da ciência geográfica, pois em contradição dialética potencializou a expansão marítima inserindo em mapas simbologias como monstros marinhos como significado para as turbulências e demais fenômenos marítimos. Além da descoberta de novos mundos, é através desta contradição que foram divulgadas a bussola, o astrolábio e a construção de embarcações mais sofisticadas para a época, como a caravela e nau. Fomentou também a confecção dos postulados ou mapas que descreviam rotas marítimas inserindo nestes, informações sobre clima, vegetação, vulcanismo e as formas de ação do homem sobre a natureza e sua relação com o meio ao qual vive.

A representação do espaço geográfico em mapas.
Fonte: www.coletivocult.com (2013).
Com a expansão do cristianismo há uma espécie de retrocesso ao avanço da geografia, pois é principalmente durante a Idade Média que muito do que fora produzido sobre o espaço geográfico foi simplesmente ignorado ou confiscado. Mesmo assim, os árabes traduziram e apossaram-se de documentos e livros que estavam nas bibliotecas de Alexandria e de Ptolomeu e os possibilitaram o conhecimento das obras fundamentais de Aristóteles e de Ptolomeu, que mesmo não sendo geógrafos possuem estudos que dependiam de descrições dos lugares e seus contextos sociopolíticos. É com os árabes que há mais desenvolvimento no que se refere aos processos de urbanização, estudos sobre agricultura, construções e explorações navais contribuindo assim em contatos com outros povos, línguas e costumes sendo socializados também com os povos dominados. A Igreja Católica, sua influência, cobiça, desejos comerciais, a conversão dos povos e o bloqueio da transmissão de ideias, hoje consideradas verdadeiras, como a esfericidade terrestre, também contribuíram significativamente para a construção da ciência geográfica, pois em contradição dialética potencializou a expansão marítima inserindo em mapas simbologias como monstros marinhos como significado para as turbulências e demais fenômenos marítimos. Além da descoberta de novos mundos, é através desta contradição que foram divulgadas a bussola, o astrolábio e a construção de embarcações mais sofisticadas para a época, como a caravela e nau. Fomentou também a confecção dos postulados ou mapas que descreviam rotas marítimas inserindo nestes, informações sobre clima, vegetação, vulcanismo e as formas de ação do homem sobre a natureza e sua relação com o meio ao qual vive.
A evolução dos estudos Geográficos
A
ciência geográfica para Moraes (2003) se destaca por englobar uma variedade de
fenômenos estudados, cada um por diferentes ciências não isolando um objeto
especificamente seu. É através de fatores histórico-estruturais que se observa
a base material das sociedades, o modo de produção ao qual estão inseridos e
seu processo de desenvolvimento socioespacial possibilitando ao mundo a
expandir-se no aspecto econômico viabilizando a formulação de postulados
científicos e filosóficos como exemplo, o conceito de espaço geográfico, pois
[...] o conceito de espaço geográfico se
enriquece porque nele se introduz o homem com sua história. Mais claramente, o
espaço geográfico é definido como sendo a superfície da terra vista enquanto
morada, potencial ou de fato, do homem, sem o qual tal espaço não poderia
sequer ser pensado. [...] espaço absoluto
o espaço torna-se uma coisa em si mesma, [...] independente [...]. [...] espaço relativo este é entendido a
partir de relacionamentos entre objetos, e o espaço relativo só existe porque
os objetos existem e se relacionam mutuamente. [...] espaço relacional este é visto como existindo nos objetos, “no
sentido de que um objeto somente pode existir na medida em que ele contenha e
represente dentro de si relações com os outros objetos. (CORRÊA, 1982. p. 1-2).
E
é neste espaço geográfico que segundo Moraes (2003), no final do Século XVIII,
na Alemanha, Alexander Von Humboldt (1769-1859) com boa origem social legitima
a superação do determinismo considerando aspectos naturais e humanos. Neste,
não os dissocia utilizando a valorização da estética, da linguagem. Há também a
ideia de unidade e enciclopedismo que de modo descritivo articula a observação
dos fenômenos e sua reflexão sobre o que está sendo estudado demandariam o
objeto da Geografia e com isso generalizavam-se os fenômenos a partir das
comparações e combinações.

Humboldt.
Fonte: bonavides75.blogspot.com (2013).
Sob o pensamento iluminista Humboldt elaborou propostas e articulações de raciocínios que tornaram a fé na razão como ideário para o desenvolvimento intelectual que levaria a sociedade a melhorar seu estado e instituições políticas. Pensou a história como um progressivo domínio da natureza pelo pensamento, visando instaurar uma ordem social que recuperasse os direitos naturais do homem identificados pela via da razão e do conhecimento sendo contrario ao pensamento religioso. Seus principais métodos eram a articulação da observação dos fenômenos e sua descrição como reflexão e possibilidade teórica que demanda seu objeto. Observava o levantamento empírico e a filosofia da natureza na busca de novos procedimentos metodológicos e campos de investigação geográficos. Colocou-se contra a especulação elaborando materiais que não se detinham a impressões subjetivas.
Ratzel.
Fonte: portifoliogeogra.blogspot.com (2013).
Segundo Moraes (1990) devido a grande importância do contexto social alemão que por meio da busca por uma organização política e de identidade no campo cientifico que Friedrich Ratzel (1844-1904) dirige suas argumentações utilizando conceitos fundamentais da Geografia, como o Território, sendo este uma porção de terra com aglomerado humano sob posse de alguém, e Espaço Vital, enquanto porção do planeta necessária para a reprodução de uma comunidade equilibrando a população e os recursos contidos nela, gerando um caminho para a reformulação destes conceitos. Através desta formulação Ratzel analisa como essenciais a defesa e o direito de um povo a um território, observando-se fatores como violência, guerra, conquistas, o embate entre as sociedades, raças e nações como componentes naturais, pois o contato entre outros povos se dá através das relações comerciais, assimilação ou guerra. Diferencia a guerra entre outros povos naturais ou cultos, ocorrendo primeiro a escravidão e posteriormente a real conquista do território.

La Blache.
Fonte: stalner-galerie.blogspot.com (2013).
Já na França, no Século XIX, que Paul Vidal de La Blache (1845-1918), fundador da corrente majoritária do pensamento e escola geográfica planeja uma Geografia Universal que através do estudo da região potencializaria a compreensão do meio físico. Utilizando-se dos métodos naturalista, possibilista, positivista e relativista sugere como objeto da Geografia o estudo das relações entre homem e natureza, apenas na perspectiva da paisagem, sendo o homem um ser ativo transformador do meio em que vive estudando os gêneros de vida, seus motivos e relação com os meios naturais sendo os traços classificatórios e particulares que viabilizam a prática da indução e da observação dos fenômenos por ele analisados nas paisagens por ele pesquisadas especificamente na França durante a Guerra Franco-Prussiana.
Para
Ratzel o Estado, segundo Moraes (1990) delimita o território contento
patrimônio cultural acumulado e a defesa do espaço vital sendo esta a função da
organização da sociedade viabilizando a defesa de seus anseios movidos a partir
de interesses próprios possuindo apetite
territorial gerando atritos na essência do Estado. Esses atritos a
estratégia imperial tornam relativas as inevitabilidades a guerras no período
bismarkiano, sendo estes os atributos que potencializam as concepções
político-sociais contidas nas propostas geográficas de Ratzel. As teorias de
Ratzel, primeiro autor a propor uma geografia mais voltada ao entendimento do
homem no espaço geográfico, são retomadas por autores nazistas que buscavam a
unificação da Alemanha sintetizando a geografia como ciência que trabalha e
aprende sobre fenômenos podendo adotar também posicionamentos. Já Karl Ritter
(1779-1859) tratava o homem como sujeito da natureza observando o mundo
diferenciando a natureza da Terra (esta projetada por Deus para o
desenvolvimento da espécie humana) e os fatos sob uma ótica mais prudente já
como sendo religioso divergia na defesa entre ideais racionais e a fé. Partia
do geral para o individual, sendo através do método redutor ou das conexões os
caminhos para a compreensão do contexto histórico para saber a evolução social
e acelerava a subordinação necessária da matéria à lei geral.
A Ciência Geográfica no Brasil
É
através de uma linha processual histórica partindo do geral (mundo) para o
local (Brasil) que estão destacadas a influência de estudiosos e geógrafos
sobre as principais correntes da ciência geográfica para compreendermos a
Geografia Agrária como uma das principais disciplinas que potencializam o
entendimento da complexidade do mundo.
.jpg/250px-Milton_Santos_(TV_Brasil).jpg)
Milton Santos.
Fonte: pt.wikipedia.org (2013).
No caso brasileiro, segundo Moura (2008) o destaque é inicialmente da corrente Geografia Francesa que permitiu o desenvolvimento da Geografia brasileira entre as décadas de 1930 e 1940 através da dita Geografia Ativa[1] que iniciando a consolidação desta não rompendo teórico-metodologicamente com a Geografia Tradicional. É neste movimento que surge o primeiro curso de Geografia, na Universidade de São Paulo em 1934 mantendo-se ainda a descrição e o empirismo.
Andrade
(1982) salienta que não há pensamento geográfico autônomo na evolução da
ciência geográfica. Exalta a Nova
Geografia[2]
resultante, também, de implicações do desenvolvimento das técnicas e das novas
descobertas cientificas. Para chegar a estas conclusões disserta sobre o
trabalho realizado por pensadores e geógrafos tradicionais. Sistematiza o modo
como a ciência geográfica brasileira se desenvolveu, influenciada por Carvalho,
pensador geográfico francês, bem como a atuação do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística na utilização de métodos quantitativos para compreender
a realidade brasileira. Critica a utilização da Teoria Geral dos Sistemas pela
sua não uniformidade, bem como os geógrafos que tomaram para si a Geografia
Nova como dogma. Enfatiza a Geografia como um estudo importante para a
compreensão das relações entre o homem e a natureza, principalmente na
organização geoeconômica do espaço brasileiro, mesmo destacando a postura de
alguns geógrafos brasileiros entre as décadas de 1950 e 1960 que não
consideravam como objetos de estudos geográficos os problemas nacionais.

Milton Santos.
Fonte: santosmilani.blogspot.com (2013).
Moraes (2003) revela que na década de 1970 a renovação da Geografia ocorre devido a ruptura do tradicionalismo nos estudos e perspectivas, pois visando maior liberdade de conhecimento, aperfeiçoamento e propostas faz a crise da Geografia Tradicional – a descritiva – tornar-se benéfica devido as mudanças de estruturas e bases metodológicas e tudo isso impulsionado por fatos ocorridos a época que fomentavam estudos aprofundados no que se referem as temáticas Território e Estado. Fatores como a evolução tecnológica, a reestruturação do capitalismo, evolução das questões agrárias cada vez mais complexas devido a utilização de recursos técnicos-científicos-informacionais mobilizaram o mundo e a economia e direcionavam a novos caminhos para a ciência geográfica, cada vez mais complexa e repleta de conexões que dão sentido mais dialético ao mundo em que vivemos.
Moura
(2008) destaca que o surgimento de outras vertentes, como a Geografia Crítica,
surgida no mundo é decorrente de acontecimentos que potencializaram dualidades,
neste caso a Guerra Fria e se fortaleceu no pós-Segunda Guerra Mundial. Foi
motivada pela inquietação causada pela utilização de métodos quantitativos para
encobrir o entendimento da expansão capitalista no mundo no recorte temporal
supracitado, pois
As formas de
articulação das forças produtivas com as relações de produção diferem,
qualitativamente, de uma formação sócio-espacial para outra. As forças produtivas
articulam no processo do trabalho, a força de trabalho, os objetos do trabalho
e os meios de trabalho. Como "primeira natureza", o espaço é objeto
de trabalho, enquanto que como "segunda natureza" é meio de trabalho,
isto é, condição de reprodução.” (MOREIRA, 1982. p. 3).
Devido
aos acontecimentos motivados pelas evoluções na relação entre homem e natureza
surgem vertentes da Geografia Crítica como a Geografia Crítica Radical Marxista
(buscava o entendimento das relações socioeconômicas partindo de pressupostos
do discurso político e ideológico do modo de produção capitalista) e Geografia
Crítica Liberal (buscava o entendimento das transformações socioeconômicas na
sociedade democrática). Quanto a Geografia Crítica Radical Marxista chamam a
atenção das distorções causadas pelo mau uso das teorias marxistas e que os
geógrafos devem estar atentos as intencionalidades no contexto sociopolítico e
espacial considerando que
A teoria do
espaço e do tempo desenvolveu-se no contexto da luta entre o materialismo e o
idealismo. A característica básica de todos os idealismos tem sido a negação da
realidade objetiva do espaço e do tempo como forma de existência da matéria.
[...], a negação da indivisibilidade do espaço e do tempo em relação à matéria
em movimento. [...] as teorias idealistas, com todos seus matizes, procuram
negar a realidade objetiva da matéria movendo-se no espaço e no tempo.
(OLIVEIRA, 1982. p. 2).
Em
síntese, a Geografia Crítica permeia-se no entendimento da realidade explicita
e implícita na produção do espaço geográfico e que devem levar em consideração
que esta produção é realizada pela sociedade e natureza, e seus elementos,
concretizando o Espaço Geográfico, como sugere Santos (1978). Provocou o
renascimento de uma Geografia Política menos tecnocrática e mais voltada a
contribuições quanto aos planejamentos do Estado que, como sugestões levem em
consideração as escalas e elementos contidos nos recortes locais e regionais,
como destaca Andrade (1982).

Manuel Correia de Andrade.
Fonte: gn107.blogspot.com (2013).
Santos (1982) afirma que a Geografia não é a ciência dos lugares, mas sim uma ciência do homem, que deve entender as relações sociais. Relembra que ao focar-se no entendimento enquanto ciência dos lugares recaiu-se sobre a Geografia uma crise que só começou a ser superada a partir da busca pela compreensão das relações sociais na pós-Segunda Guerra Mundial, pois
Consideramos que
“o Espaço é a forma de ser da matéria
que, sendo condição básica da coexistência dos fenômenos materiais, reflete na
sua essência e propriedades, determinada lei geral da coexistência dos
fenômenos e dos estados da matéria em movimento. O tempo é a forma de ser da matéria que, sendo
condição básica da mutação dos fenômenos materiais, reflete na sua essência e
propriedades, determinada lei geral desta sucessão dos estados da matéria, em
movimento". (Sviderski, 1956:118.). (OLIVEIRA, 1982. p. 8).
Quanto a Geografia
brasileira, ainda para Santos (1982) as implicações da ditadura direcionaram a
ciência geográfica a focar seus estudos na estatística e descrição a tornando
teorética, principalmente por ignorar o debate sobre a realidade brasileira,
tal qual ela é. Destaca a carência de produções em contraponto as necessidades
brasileiras e crítica os geógrafos por “permitir” a pesquisadores de outras
áreas apreenderem para si estudos geográficos, bem como a monopolização de
produções por poucos geógrafos, bem como seu acesso e a pouca importância
comercial para as editoras. Exalta-se quanto a facilidade de acesso a
informação por estrangeiros sobre dados brasileiros e a baixa acessibilidade
aos brasileiros. Denuncia a desagregação na formação do geógrafo brasileiro que
ainda são influenciados por erros passados. Sugere a construção de uma
Geografia brasileira que sirva também para ajudar a construir um país com menos
desigualdades, gerando suas próprias ideias. Colaborando com este pensamento
Corrêa (1982) destaca que
O espaço-morada do homem é de natureza
social. O espaço não atua passivamente no processo de sua constante organização
e reorganização pelo homem (e este posicionamento não implica um retorno ao
determinismo ambiental). Este papel pode ser, devido a um diferencial na
distribuição de recursos naturais, e em casos limites, de extrema importância
no processo de organização do espaço. [...]. A ação humana, que gera a
organização do espaço (forma, movimento e conteúdo de natureza social sobre o
espaço) é caracterizada, nas sociedades integradas economicamente através de
mecanismos de mercado, pela ação de atores que, ao se apropriarem e
controlarem os recursos, sobretudo os recursos escassos, natural ou socialmente
produzidos, [...] capazes de impor sua marca sobre o espaço. [...] Os processos
espaciais, elementos mediatizadores entre processos sociais e organização do
espaço, constituem um conjunto de forças postas em ação por determinados atores
que atuam ao longo do tempo, originando localizações, relocalizações e
permanência de atividades e do homem sobre o espaço. (CORRÊA, 1982. p. 2).
Compartilhando
destas ideias Moreira (1982) desenvolve estudo sistemático para compreender o
arranjo socioespacial utilizando os conceitos de primeira natureza (a essência
totalizadora do espaço geográfico, objeto do trabalho) e segunda natureza
(inclusa sua socialização a partir da reprodução do trabalho), pois são através
do debate sobre a dialética do espaço busca enfatizar a formação
econômico-social através do modo de produção dos bens materiais e suas
implicações, distintas em cada recorte do espaço geográfico, aprofundando o
estudo sobre a dominação do homem sobre a natureza. Na busca por um método de
pesquisa, esclarece que a análise da totalidade deve permear sobre a apreensão
da dialética social da formação econômico-social, salientando que devido ao não
isolamento dos arranjos jurídicos, políticos e ideológicos do Estado não se
pode entender por si só as relações de expropriação, transferências, produções,
em relações locais relações local-global.

Território.
Fonte: http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/abordagem-conceito-territorio.htm(2013).
Oliveira (1982) resgata o estudo de pensadores e geógrafos sobre a formulação epistemológica do espaço e do tempo não os dissociando para, por exemplo, compreender o materialismo dialético. Norteia o estudo sobre espaço e tempo a partir da concepção de Lênin constituída do universo enquanto matéria em movimento movimentando-se no espaço e no tempo. Destaca que a teoria do espaço-tempo desenvolveu-se a partir da necessidade do entendimento sobre o que de fato seriam o materialismo e o idealismo, logo, as indivisibilidades do espaço.
Moraes
& Costa (1982) frisa a importância da Geografia mais voltada ao
entendimento das relações existentes entre homem e natureza no espaço
geográfico, sob influencia marxista, mesmo os estudos a partir desta influência
desenvolvendo-se tardiamente. Realizam apontamentos sobre o processo que a
Geografia Crítica passa a fortalecer-se a partir dos estudos marxistas para a
compreensão da ação do materialismo histórico e dialético, a partir da
apreensão do território como um processo histórico e social, e neste inclusas
as relações desde a exploração, produção, distribuição/circulação, consumo e
desperdício. Sendo assim,
A concepção
materialista dialética da continuidade e da descontinuidade da matéria, do
espaço e do tempo, não exige nem a divisão infinita da matéria, do espaço e do
tempo, nem sequer a possibilidade infinita desta divisão. A solução do problema
da continuidade e descontinuidade é possível através da teoria dialética da
unidade das mutações qualitativas e quantitativas. (OLIVEIRA, 1982. p. 10).
Consequentemente este
processo incide sobre o espaço geográfico fomentando o valor criado (trabalho
transfere também valor aos objetos) e o valor do espaço (inclusos na renda
diferencial e na redá de monopólio da terra), por uma sociedade, que dependendo
do avanço técnico adquire mais poder no espaço geográfico. Sistematiza a
categoria Território como fruto da Formação Econômico Social, influenciada por
fatores principalmente externos, no modo de produção capitalista.
Sendo
assim, o espaço geográfico é, por estes autores, considerado cada vez mais
rico, pois é nele que o homem se ressignifica, em sua morada – a superfície
terrestre, e sem este espaço não poderia sequer ser pensado e tampouco sua
(re)produção social. A ciência geográfica está em constante desenvolvimento e é
desta forma que se analisou os principais geógrafos brasileiros que em seus tempo-espaço
refletiram sobre o pensamento geográfico brasileiro destacando suas nuances
mediante as transformações ocorridas no mundo.
[1] Movimento da Geografia que entre
1950 e 1960 que possibilitou uma renovação por questionarem o papel do geógrafo
e a busca pela adoção de novos caminhos metodológicos e conceituais que dessem
sentido e revigorassem a ciência geográfica.
[2] Movimento da Geografia no final
da década de 1960 que tinha como intuito aplicar adotando a filosofia
positivista lógica para sistematizar uma metodologia geográfica especifica para
pesquisas, o desenvolvimento de teorias utilizando também a estatística,
modelos e abordagem sistêmica para atender o processo evolutivo ao qual a
sociedade estava se inserindo a época.
Fonte:
ALMEIDA, Ricardo Santos. Monitoria da Disciplina Geografia Agrária: Iniciação à Docência para a Formação Acadêmica em Nível Superior. Maceió: Centro Universitário CESMAC, 2012. 89 p.
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